Vi o dia amanhecendo, mamãe acendendo o fogão de lenha, o rádio no último volume ligado no Programa do Zé Bétio, que com sua voz familiar chamava: "Vamos gente, vamos levantar da cama, vamos mexer o corpo, olha a hora...".
Ouvi o barulho do moinho moendo o café e logo o barulho dele escoando pelo coador de pano e caindo no bule.
Papai passou pela porta do meu quarto chamando pra eu levantar e foi alimentar porcos e galinhas lá fora.
Receba as notícias do Visão do Médio Norte no seu WhatsApp clique aqui 👉 https://chat.whatsapp.com/Cc6cHsCc0klH9bCiS5Dlyc
CURTA NOSSA PÁGINA NO FACEBOOK - CLIQUE AQUI https://www.facebook.com/denizepaixaoborge?mibextid=ZbWKwL
Clareava mais um dia na Estrada Fortuna, em Altonia, PR; estico o pé pra fora do acolchoado e cobertores e o frio paranaense faz doer meus ossos, mas o dia começou e é preciso levantar.
Visto meu casaquinho feito de flanela barato, passo pelo fogão, pego a caneca de café, ajudo mamãe a levar os baldes até o curral e pequeno pra ajudar, fico observando pelo vão das tabuas ela amarrar o bezerro e iniciar a ordenha.
Como ela aguenta com esse frio, ordenhar com as mãos rachadas 4 ou 5 vacas leiteiras e ainda cantar tão alto, tão feliz?
(Mamãe sempre cantou muito e muito bem).
O barulho do leite espumoso caindo cadenciado no balde, fico olhando o vapor do dele morno saindo no ar gelado da manhã; o dia cheio de vida, com seus ruídos, cores e cheiros está acordando.
Sinto o sabor do leite crú, tirado direto do peito da vaca para a caneca já com café quente; os risos das irmãs pelo "bigode" que a espuma deixava sobre o lábio superior a cada gole tomado.
Enxadas já amoladas, a moringa cheia, a cachorrada pulando em festa esperando que o primeiro de nós comece a subir o carreador pra eles dispararem em festa na frente, brincando no cafezal florido.
Minha velha casa feita de peróba construída por meus tíos maternos, tão pequena e tão singela.
Sem forro e de cimento queimado com vermelhão, encerado com Cêra Canário, lustrado no escovão de ferro.
A fortaleza que abrigou meus sonhos foi demolida logo depois que eu já homem feito, voltei reve-la e fazer essa foto.
Voltei lá uma outra vez depois disso; só restava o piso de cimento e o velho poço abandonado no meio do pasto. Fui onde fora o meu quarto, o quarto que embalou meus sonhos, deitei sobre o piso ao relento e agora abraçado aos meus medos de adulto revivi essas cenas do amanhecer da minha infância.
João Braga Neto 25-03-24
Comments