top of page
WhatsApp-Video-2024-02-27-at-16.29.41.gif
  • Foto do escritorjjbraganeto

A Casa da Minha Infância

Vi o dia amanhecendo, mamãe acendendo o fogão de lenha, o rádio no último volume ligado no Programa do Zé Bétio, que com sua voz familiar chamava: "Vamos gente, vamos levantar da cama, vamos mexer o corpo, olha a hora...".

Ouvi o barulho do moinho moendo o café e logo o barulho dele escoando pelo coador de pano e caindo no bule.

Papai passou pela porta do meu quarto chamando pra eu levantar e foi alimentar porcos e galinhas lá fora.


Receba as notícias do Visão do Médio Norte no seu WhatsApp clique aqui 👉 https://chat.whatsapp.com/Cc6cHsCc0klH9bCiS5Dlyc

CURTA NOSSA PÁGINA NO FACEBOOK - CLIQUE AQUI https://www.facebook.com/denizepaixaoborge?mibextid=ZbWKwL


Clareava mais um dia na Estrada Fortuna, em Altonia, PR; estico o pé pra fora do acolchoado e cobertores e o frio paranaense faz doer meus ossos, mas o dia começou e é preciso levantar.

Visto meu casaquinho feito de flanela barato, passo pelo fogão, pego a caneca de café, ajudo mamãe a levar os baldes até o curral e pequeno pra ajudar, fico observando pelo vão das tabuas ela amarrar o bezerro e iniciar a ordenha.

Como ela aguenta com esse frio, ordenhar com as mãos rachadas 4 ou 5 vacas leiteiras e ainda cantar tão alto, tão feliz?

(Mamãe sempre cantou muito e muito bem).


O barulho do leite espumoso caindo cadenciado no balde, fico olhando o vapor do dele morno saindo no ar gelado da manhã; o dia cheio de vida, com seus ruídos, cores e cheiros está acordando.

Sinto o sabor do leite crú, tirado direto do peito da vaca para a caneca já com café quente; os risos das irmãs pelo "bigode" que a espuma deixava sobre o lábio superior a cada gole tomado.

Enxadas já amoladas, a moringa cheia, a cachorrada pulando em festa esperando que o primeiro de nós comece a subir o carreador pra eles dispararem em festa na frente, brincando no cafezal florido.

Minha velha casa feita de peróba construída por meus tíos maternos, tão pequena e tão singela.

Sem forro e de cimento queimado com vermelhão, encerado com Cêra Canário, lustrado no escovão de ferro.

A fortaleza que abrigou meus sonhos foi demolida logo depois que eu já homem feito, voltei reve-la e fazer essa foto.

Voltei lá uma outra vez depois disso; só restava o piso de cimento e o velho poço abandonado no meio do pasto. Fui onde fora o meu quarto, o quarto que embalou meus sonhos, deitei sobre o piso ao relento e agora abraçado aos meus medos de adulto revivi essas cenas do amanhecer da minha infância.


João Braga Neto 25-03-24

0 comentário

Comments


bottom of page