" Como explicar-te que as pessoas de quem gostamos morrem, deixam-nos e partem?
Como explicar-te que o amor e a alegria fazem parte da vida tal como a dor e a tristeza?
Que há vermelho, verde, amarelo...
mas que também há negro?
Como explicar-te tudo isto, minha filha?
Então conto-te uma história.
Um dia, um homem cego foi ter com o vizinho. Bateu à porta com a bengala e esperou que abrissem.
O vizinho convidou-o a entrar.
Ofereceu-lhe um copo de leite e bolachas de trigo.
Depois de comer e de beber, o cego começou a falar:
-Como é a cor branca?
Ontem à noite sonhei que via o branco pela primeira vez.
O meu sonho parecia tão real ...
O vizinho não sabia o que dizer.
Viu o copo e o prato vazios na mesa e disse:
- O branco é a cor do leite.
O cego ficou um momento em silêncio e disse:
- O branco é quente e fumegante como o leite que tu tomas antes de te deitares.
- Não é exatamente assim. Branca é a farinha de trigo.- respondeu o vizinho.
Mais silêncio, e o cego disse:
-Já percebi.
O branco é leve e macio como o tato da farinha entre os dedos.
-Não percebeste - disse o vizinho. Leve macia é a farinha de trigo, não é o branco! O branco é a cor da neve.
O cego sorriu.
- É como se o estivesse a ver. Frio e húmido. E quando se pisa faz ruídos...
- Não, não - interrompeu o vizinho.
Lamento, mas não sou capaz de te explicar como é o branco.
Então o cego levantou-se, deu um aperto de mão ao vizinho e voltou a sorrir. Apoiado na bengala, voltou para casa.
Não disse nada mas, por fim, soube que no seu sonho vira o branco.
Tal como tu sabes, que encontraste a tua estrela . Fechei a janela e levei-te para a cama. Dei-te um beijo na testa, como a tua mãe fazia sempre, e fiquei ao teu lado até adormeceres.
Silvia Santirosi. In. "O comboio". Ilustração de Chiara Carrer
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