A vida não era fácil
A estrada poeira e lama
Mas aceitou a missão
Porque isso é Deus quem chama
De ambulância motorista
No volante ser artista
Coisa que só faz quem ama.
Velho João da Ambulância
Velho guerreiro e amigo
Velhas lutas em que driblou
A velha morte e o perigo
Velhos carros avariados
Em que fazia o translado
Conforme era exigido.
"Os olhos dele cansados
A viajem continuava
Parabrisa embarreado
E eu vendo o quanto lutava
Esquecer jamais consigo
Transportava meu marido
Á noite e eu o admirava.
Com uma garrafa pet
Seu João lavando o barro
Reassumindo o volante
Porque era necessário
A viajem continuar
Pro meu marido internar
Testemunhei seu calvário"
Assim me disse a pessoa
Que o poema encomendou
Que enquanto o João dirigia
Aquela noite, observou;
Ele pacientemente
Atendendo o paciente
Foi como ela relatou.
Quantos anos de volante
Quanta luta quanta estrada
Quantas noites sem dormir
Quanta saúde, (sua), estragada
Quanto trecho percorreu
Quantos pacientes atendeu
Na interrompida jornada?
Quantas noites nessa luta
Quanto pensou em parar
Quanto esforço precisou
Pra prosseguir, continuar,
Quão perto você já estava
Pelo que tanto esperava:
A idade de aposentar.
A pandemia atacando
Era dura a realidade
Por direito se afastava
Quem tinha comorbidade
E eu não sei por qual motivo
Te expuseram ao perigo
Sabendo da gravidade.
Chefia não respeitou
A história e perseverança
Nem as vidas que salvou
De adultos, idoso e crianças
E exposto de peito aberto
Com tanto vírus por perto
Morreu o João da Ambulância.
João Braga Neto - 22/02/2024
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