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  • Foto do escritordenizepaixaoborges

Morrer é um pratinho


Quando a gente morre, tem ao menos um consolo: não é que saímos de uma festa em que todos permanecem nela. Quando a gente morre, tudo morre junto. Não há mais festa nem consolo nem gente alguma. Nem morte não há.

Há um pratinho em nossa casa, está todo escangalhado, tanto que já nem o usamos mais como prato, senão como objeto decorativo. Antigo, viveu tanta erosões, quedas, suturas, desgastes que agora apenas repousa, pregado na parede.


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Olho para ele e sei que não está morto. Não se autoexamina, não pensa em tudo por que passou nem se depara com as mais inquietantes reflexões. Aposentou-se do ser prato e agora, sem tentar ser metafísico, apenas é.

Talvez por isso seja agora muito mais plenamente um prato, como jamais fora, guardando para muito além de recordações ou glórias ou utilidade, uma condição, embora abstrata, absoluta do ser prato, alheio ao que fizeram ou estão fazendo dele, prato, apenas.

Prato-prato, prato-coisa-parada-no-nada, na eternidade de sua matéria, pó de estrela em constante transformação, ilusão bela como pode ser bela a fumaça de louça que sobe bem acima das minhas circunflexas sobrancelhas.


Fonte: Página Facebook " Marcílio Godoi "

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