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Alzheimer - Diário do esquecimento


“Hoje o telefone tocou às duas horas da madrugada. Atendi com o coração disparado e era mamãe. – Acordei e seu pai não estava aqui, acho que ele saiu. Levantei e corri para a casa deles. Minha casa fica a mais ou menos trinta minutos da casa dos meus pais. No caminho ligava para mamãe para saber se ele tinha chegado. ... De repente, vejo alguém caminhando na praça, no meio das árvores. Entrei com o carro no jardim e vi meu pai. – Pai, o que o senhor está fazendo aqui? – O negócio é o seguinte: tem um homem que vem buscar uma peça e eu vou esperar ele. – Ah! Eu já entreguei a peça para ele. Mandou agradecer e disse que está tudo certo.


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Ele sorriu, aliviado, e eu me segurei para não desabar na frente dele. – Então vamos voltar para casa porque a mamãe está esperando. Entrou no carro e, quando chegamos, minha mãe estava chorando. Pedi para que ela não falasse nada e ele foi deitar. – Mãe, pelo amor de Deus, esconde essa chave!” (Míriam Morata in Alzheimer diário do esquecimento)

Papai fugiu diversas vezes, os vizinhos o encontravam e voltavam com ele para casa. Certa vez uma pessoa que morava em outro bairro me liga; - Míriam seu pai está andando aqui na avenida, ele está meio cambaleante, está tudo bem? - Não! Está tudo mal, fique com ele até eu chegar. E eu saia correndo buscar meu pai, acalmar minha mãe que estava desesperada porque ele fugiu de novo e ela se culpava por esquecer de esconder a chave. O Alzheimer adoece o paciente, o cuidador e todos que amam e convivem com essa pessoa. Quando a médica me disse: - Seu Rubens tem Alzheimer e não pode mais ficar sozinho. - Como assim? O que é Alzheimer? Ele vai morrer? Mas a médica estava ocupada demais para perceber meu susto, e falar qualquer coisa que me confortasse, ou esclarecesse.

Alguns médicos são anjos que nos salvam da doença e do desespero; outros são arrogantes demais e se acham deuses, por isso não conseguem enxergar os mortais que imploram por um pouco de atenção. Eu não sabia nada dessa doença, exceto que quando o “alemão chega” a pessoa esquece tudo e conta mil vezes a mesma história. Ninguém me explicou que a pessoa que eu amava sairia da minha vida, ou melhor, me expulsaria da sua vida, apagaria todas as nossas histórias, cumplicidade, lembranças, vitórias e derrotas... Ninguém me avisou que essa pessoa amada, desapareceria aos poucos, e em seu lugar chegaria um estranho, às vezes violento, outras vezes delirante e a cada dia se tornaria mais dependente e distante. Ninguém me avisou que o Alzheimer adoeceria nós dois, mas eu teria que continuar forte e lúcida, eu não sabia que iria atravessar o pior momento de minha vida, e isso provocaria danos a minha saúde física, emocional, financeira, social, profissional e espiritual. Ninguém me avisou que a vida estaria por um fio e eu teria impedir que esse fio se rompesse. Se eu soubesse de tudo isso não apenas teria escondido a chave, em um lugar mais seguro, mas tentaria me colocar em um lugar mais seguro, onde pudesse cuidar e proteger meus pais e eu mesma. Fiquei na porta do lado de fora, para não permitir que nenhum sofrimento, ou perigo entrasse, mas esqueci que eu também deveria ter ficado do lado de dentro." Míriam longe a ilha e olhando a ilha.


Fonte: Página Facebook " Alzheimer diário do esquecimento "

1 comentário

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Miriam Morata Novaes
Miriam Morata Novaes
Apr 19

oi obrigada por publicar meu texto, mas peço que coloque o crédito de autoria - Míriam Morata

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