Perguntei o que era amor
ao meu velho professor,
por causa do verbo amar.
Aquele velhinho ouviu,
olhou p’ra mim e sorriu,
e respondeu-me depois:
«Amor, conheci só um:
substantivo comum,
às vezes comum de dois.»
Traindo um desgosto acervo,
disse que «amar, como verbo,
não é sempre regular:
é triste dizer amei;
é mau dizer amarei;
e não se diz hei-de amar."
O verbo não é p’ra todos
igual nos tempos, nos modos
e, às vezes, por tal defeito,
põe-se uma oração de lado
porque não tem predicado
nem se conhece o sujeito.
Só hoje é que dou valor
ao verbo que o professor
tão bem me tinha ensinado.
Pois há quem tal verbo adore.
Também há muito quem chore
por já o ter conjugado.
Frederico de Brito. "Lição de Amor"
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